Literatura infantil cearense
- Victória Freire

- 24 de nov. de 2021
- 5 min de leitura
Atualizado: 28 de nov. de 2021
“... Escravos de Jó, jogavam caxangá, tira, bota deixa o Zé Pereira ficar, guerreiros com guerreiros fazem zigue zigue zá...” Escravo de Jô – Ciranda

No Brasil, a Literatura Infantil exibe características bastante originais, agregando valores portugueses, africanos e indígenas. A literatura oral, trazida pelos colonizadores, era narrada pelas avós que entretinham as crianças com histórias, a elas juntavam-se as narrativas das escravas negras que transmitiam às outras, as amas dos meninos brancos. O contato com a cultura dos índios trouxe inúmeros elementos que vieram enriquecer esse imaginário, como as figuras de Iara, e outros chamados de Encantados.


Somente com a inserção da Imprensa Régia, em 1808, inicia-se a atividade editorial no Brasil, seguindo-se, a produção literária destinada ao leitor infantil. A princípio, predominavam as traduções de clássicos estrangeiros e, também, as adaptações de contos portugueses, das quais se pode destacar Gonçalo Fernandes Trancoso, escritor português que reuniu narrativas de origem oriental e relatos da Idade Média. Essas narrativas correram o mundo, sendo hoje conhecidas como “Contos de Trancoso''.
Definir o conceito de regionalismo na Literatura remete ao surgimento do pré-modernismo, autores como Euclides da Cunha, Monteiro Lobato, Graça Aranha, Rachel de Queiroz, entre vários outros, focalizavam, paralelamente, em suas obras de ficção, questões de maior relevância para o ser humano. Outro aspecto de grande relevância é a difusão, através destas produções editoriais, das falas e tradições típicas que caracterizam os diferentes povos que habitam nosso país, sem elas, o Brasil, não conhecia sua própria identidade.


A Padaria Espiritual foi uma das mais singulares associações culturais, tanto do Ceará como do Brasil. Por ela passaram escritores que ajudaram a compor parte significativa da atividade artística e da imprensa na província cearense. “O intuito de seus idealizadores era despertar, na sociedade, o gosto pela arte. A Padaria Espiritual não era uma sociedade exclusivamente das Letras, mas das artes em geral, pois o grêmio contou tanto com prosadores e poetas, quanto com pintores, desenhistas e músicos.”
Foi com a escritora Rachel de Queiroz, que, em 1969, lançava sua primeira obra infantil, intitulada O Menino Mágico, que veio a ganhar o prêmio Jabuti de Literatura Infantil, patrocinado pela Câmara Brasileira do Livro. Sendo considerada o contexto em que as crianças estão inseridas.

Depois, outras produções de sua autoria, igualmente destinada ao público infantil, foram lançadas no mercado, como: Andyra (1992), Cafute & Pena de Prata (1996), Xerimbabo (2002) e Memórias de menina (2003).
Rachel de Queiroz, dona de um talento literário, demonstrou fala e sentimento nordestinos, valores que foram reconhecidos em todo o mundo, e que se fez respeitar através de seus textos literários.
Assim como obras estrangeiras, a literatura brasileira, em específico, a cearense, tem interesse em agregar diversas artes em um único artefato físico. Por isso, junto aos textos, a ilustração recebe uma grande atenção, pois ela, como a literatura, narra e informa. À vista disso, há a preocupação de ser bela, atraente e comunicativa, considerando que deve instigar a curiosidade das crianças e combinar com o contexto do livro.
Um exemplo clássico da linguagem verbal junto com a não verbal dentro da cultura cearense seriam os Cordéis.

A leitura não verbal também nos dá a oportunidade de desenvolver atividades, principalmente interpretativas, produzindo a partir de outras linguagens, a imaginação criativa. Ilustradores com conhecimento gráfico e grande sensibilidade fazem com que seus desenhos contem uma histórias que nos toquem profundamente.
Outro grande exemplo é o clássico Iracema do célebre José de Alencar, que teve contato com os quadrinhos e foi adaptado para o público infantil pelo dramaturgo Ricardo Guilherme em parceria com Karlo Kardozo.

A Universidade Federal do Ceará foi uma das primeiras no ranking nacional a incluir no seu currículo de graduação a disciplina de Literatura infantil, e através deste estímulo, novos talentos foram gradativamente lançados no mercado.
Produções cearenses devem ser celebradas por valorizar a cultura local e explorar o ambiente em que a criança vive, pensando nisso, homenageio e indico aqui alguns livros de escritores e ilustradores nordestinos:
A escola dos bichos - Horácio Dídimo

Sinopse: O dia a dia em uma sala de aula é retratado pelo autor de forma bastante divertida. Nas páginas dessa obra, as lições são ensinadas pelo professor Elefante e os animais representam cada tipo de estudante: aplicados, preguiçosos, tagarelas… Venha também aprender brincando na Escola dos Bichos.
Plantou palavra, colheu poesia - Socorro Acioli

Sinopse: Sensível e poética narrativa sobre a vida de Francisco, um garoto nordestino que, em meio às dificuldades da vida no sertão, conhece a poesia. Esse encontro o deixa intrigado: como as palavras podem criar coisas tão bonitas? Como o vocabulário de todos os dias pode ser transformado em algo tão mágico? O leitor na realidade acompanhará a trajetória de um poeta popular, desde sua infância decorrida nos confins do sertão cearense, entre a labuta na terra, o despertar para a poesia e a criação de uma arte genuinamente popular, ou seja, aquela que não é feita para o povo, mas que nasce diretamente dele como a planta do solo.
Brincadeiras de sol e mar - Flávio Paiva

Sinopse: Este descontraído cordel narra aventuras de um peixinho que queria conhecer o mundo e do Capitão Rapadura, herói cearense homenageado pelo autor e que completa 40 anos. É uma história que aborda os perigos que nos cercam e retoma o valor da amizade e companheirismo, com bela ilustração de Mino.
Bel, a princesa nordestina - Léo Rocha

Sinopse: Bel é uma linda princesinha do próspero e longínquo reino do Sertão. Junto a seu amigo Finzim, enfrenta uma bruxa terrível, a Seca, que quer se apossar do lugar. Através de armadilhas e artimanhas, a dupla coloca a bruxa no seu lugar, deixando orgulhoso seu pai, o rei Sertanejo, e proporcionando ao povo a oportunidade de refletir sobre o seu próprio valor e sobre este bem tão essencial quanto universal: A Água.
A mitologia e o saber: três mistérios - Cleto B. Pontes

Sinopse: Ao recontar os destinos de Fênix, Édipo e Ícaro, entrecruzados, C. B. Pontes subtrai-os à dimensão clássica e os projeta no existir humano real, palpável, atemporal. Estabelecendo fronteiras bem demarcadas entre imaginação e fantasia, o livro nos devolve a tentação permanente do mistério, do fascínio, de um saber que se revela insaciável.
O pequeno inventor de soluções - Marília Lovatel

Sinopse: Quando tudo começa a dar errado e a gente sente o coração “espremoído” de tanta tristeza, não adianta ficar “urubuservando” os problemas... Acredite, essa é uma maravilhosa oportunidade para quem “exata a mente” em busca das melhores soluções. Assim fizeram Juliano e seus amigos. E certamente assim você fará, depois de ler este livro.
O puxa-puxa da bruxa - Demitri Túlio

Sinopse: Uma bruxa alegre que faz rimas, trava línguas, doces e travessuras. Trabalha o patrimônio cultural ligado aos saberes tradicionais sobre alimentação e pode servir de mote para uma degustação dos alimentos citados no texto ou até mesmo o preparo de alguns deles pelas crianças.
O conde mendigo e a princesa orgulhosa - Evaristo Geraldo da Silva

Sinopse: Como podemos conhecer as verdadeiras intenções das pessoas, a verdade ou a falsidade em seus comportamentos? A trama gira em torno de uma princesa orgulhosa, que recusava todos os seus pretendentes, e nos mostra como acontecimentos aparentemente negativos podem transformar as pessoas para melhor.
Escrito por: Victória Freire
Fonte: Monografia de Elianete Maria Severiano Fortaleza sobre Literatura infantil cearense: Contos, Encantos e Desencantos e Editora Armazém da cultura.





Comentários