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Clássicos

Foto do escritor: Victória FreireVictória Freire
"A fantasia é um mecanismo inventado pelo homem na era medieval para superar as dificuldades da vida real", conta Katia Canton, especialista em contos de fadas pela Universidade de Nova York.

O conceito de infância ou criança hoje em dia não é o mesmo do de séculos atrás, uma vez que não existia a preocupação e o cuidado com as pessoinhas de baixa faixa etária. Crianças eram consideradas adultos pequenos, e por isso, não tinham nenhum tratamento especial para sua fase infantil.

A Literatura infanto-juvenil surgiu depois de uma revolução social e cultural em que entendeu-se que a infância é uma fase de preparação e aprendizado, ela contribui com a ideia de passar lições para as crianças, de maneira divertida e fantasiosa, algumas relacionadas à moral e outras a precauções de situações perigosas.

Inicialmente as histórias infantis não eram escritas, mas somente contadas e eram criadas pelas próprias mães que tinham necessidade de se comunicar com seus filhos e contar a respeito das coisas que os rodeavam.

O início da literatura infantil ocorreu entre os anos de 1628 e 1703, com os títulos: “O Barba Azul” (Perrault)”, “A Gata Borralheira” (Irmãos Grimm), “O Patinho Feio” (Andersen), entre outros. No Brasil, poucos se destacaram, mas o que chamamos de Literatura infantil brasileira partiu de obras do consagrado Monteiro Lobato, como: Reinações de Narizinho e O picapau amarelo, que deu origem ao famoso O sítio do Picapau amarelo.

Foto do livro original dos contos dos irmãos Grimm, primeira edição.

Os contos de fadas conhecidos atualmente surgiram na França, ao final do século XVII, como dito antes, por Perrault, que editou as narrativas folclóricas contadas pelos camponeses, retirando passagens obscenas de conteúdo incestuoso e canibalismo. Enquanto os Irmãos Grimm amenizavam situações bizarras com magia e “finais felizes”.


Trago aqui alguns fatos curiosos sobre as adaptações e os seus reais significados:

  • Bela e a Fera (1740)

Uma jovem garota decide trocar sua liberdade para salvar o pai da prisão do castelo de uma besta, em meio ao caos ela se apaixona por esse suposto monstro. Na versão original, uma fada fica encarregada de cuidar de um jovem príncipe, mas algo incomum acontece, pois todo o sentimento maternal e de proteção que a fada possuía pelo príncipe se transforma em desejo carnal. A rainha intervém nos planos da fada de conquistar o príncipe e não o concede à fada o seu amado filho, por causa da idade dela. Furiosa, a fada lança uma maldição em cima do rapaz que o tornaria feio e repugnante, mas somente quando uma mulher aceitasse dormir com ele, por livre escolha, a maldição seria quebrada. Com o passar do tempo o príncipe vira uma Fera rude e mal educada, até que um dia um senhor (pai da Bela) acaba encontrando o seu castelo, após enfrentar uma terrível tempestade. A Fera propôs um acordo com o comerciante depois de o pegar roubando uma flor muito preciosa para si. Ele teria um mês para voltar e cumprir a sua punição, ou enviar a sua filha mais nova no seu lugar para que ela morresse no lugar dele.

Bela não aceitou que o seu pai morresse por causa de seu pedido e decidiu fugir para o castelo e tomar o seu lugar. Ao chegar lá, a Fera pergunta se ela veio por livre escolha e confirmando que sim, Bela é aceita pela Fera. Mas, para Bela ficar no seu lugar, ela teria que encontrar a Fera todas as noites, no mesmo horário, precisando ficar esperando a fera para jantarem juntos.

Com o tempo, Bela vai perdendo o medo da fera e ele espera que ela crie sentimentos por si. Após uma noite de amor inesquecível, a Fera, depois do ato, se transforma em um lindo homem.

Inicialmente, o objetivo do conto era criticar o sistema existente de matrimônio, em que as mulheres eram privadas da maioria dos direitos. Muitas escritoras dos séculos XVII e XVIII promoveram ideias de relacionamentos saudáveis, e Bela e a Fera se tornou um manifesto para proteger as mulheres. A narrativa deveria ter como público alvo os adultos.

A Fera não era um príncipe enfeitiçado com uma alma gentil, mas uma criatura feroz e violenta, um modelo de marido grosseiro. Porém, ele se esforçou para conquistar o coração de Bela.

Hoje em dia, o comportamento da Bela é comparado com a Síndrome de Estocolmo (ela se desenvolve a partir de tentativas da vítima de se identificar com seu raptor ou de conquistar a simpatia do sequestrador).

  • O patinho feio (1843)

Livro Histórias para sonhar (2010) Editora Ciranda cultural. Foto por: Lívia

Um pato feio e desengonçado é rejeitado pela família por ser diferente. Ele foge e descobre que é na verdade um belo cisne. É senso comum achar que O patinho feio fala sobre a beleza interior e exterior, mas a moral original pensada pelo autor era outra. Ele compara o filhote cisne com um aristocrata que, por acaso, acaba convivendo com pessoas simples. “O escritor achava que as pessoas que estavam ao redor dele durante a sua infância e adolescência não poderiam se tornar famosas, pois tinham nascido em famílias pobres.”

  • João e Maria (1812)

Livro História para sonhar (2010) Editora Ciranda cultural. Foto por: Lívia

Como já conhecido, João e Maria são filhos de uma família tão pobre que sua mãe decide abandoná-los para não precisar dar comida para eles. Mais tarde, as crianças encontram uma casa de doces e são capturados por uma bruxa. Por mais que pareça somente ficção, o conto de fadas tem um pesado tom de realidade.

Na época em que foi criada, era comum abandonar crianças nas florestas devido à extrema fome em algumas regiões. Além disso, nos séculos XI e XII, as pessoas se alimentavam de carne humana em situações de desespero por causa da intensa fome.

Mesmo as versões originais sendo realistas demais ou macabras, essas histórias, mesmo que adaptadas, funcionam como válvulas de escape e permitem que a criança vivencie problemas de modo simbólico, saindo felizes dessa experiência.

A leitura, muitas vezes, não é considerada atividade que abrange o ato da compreensão e da interpretação de texto, mas sim o mero reconhecimento das letras que formam palavras. Dessa maneira, tornando necessário um estudo acerca dessas considerações, apontando algumas concepções, o papel de profissionais de trazer o gosto pela leitura e o hábito de ler, assim como as escolas, os pais e familiares, como dito no post anterior sobre o poder da leitura oral.

Contos de fadas é um tipo de leitura tão enriquecedor e satisfatório, pois eles ensinam sobre os problemas interiores dos seres humanos, mesmo que disfarçados, e apresentam soluções e ensinamentos. A fantasia, ao contrário do que muitos pensam, ajuda a formar a personalidade e a criatividade. A criança aumenta seu repertório sobre o mundo, transfere e espelha seus próprios dramas para os personagens, o que torna obras clássicas referência em qualquer época por despertar as principais emoções humanas.

O que as crianças mais temem na infância? Possivelmente a separação ou morte dos pais, e esse drama existencial aparece logo no começo de muitas histórias consideradas clássicas na literatura infantil, como Branca de neve e Cinderella. A agressividade e as brigas são vivenciados na fantasia dos contos, assim como o medo da rejeição é trabalhado em João e Maria, a rivalidade entre irmãos em Cinderella e a separação entre as crianças e os pais em Rapunzel e O Patinho Feio.

Ainda que muitos achem certas histórias originais inapropriadas, estudiosos do assunto afirmam que as crianças gostam de violência. Aliás, um dos prazeres da arte, no caso, a literatura, para crianças e adultos, parece ser exatamente a sensação de viver por empréstimo grandes aventuras, grandes amores e grandes crueldades também.

Além disso, os contos de fadas não devem ficar restritos a criancinhas. Na adolescência, esse tipo de leitura contribui para a formação de jovens leitores e críticos, ainda mais quando se estuda fatos sociais e históricos que contribuíram para a inspiração desses contos.

Várias dessas histórias estão em suas memórias, que carregam doces lembranças da infância. Um estímulo para os estudos de literatura infanto-juvenil foi a criação de livros que conversassem tanto com o público infantil quanto o público juvenil e adulto.

Falar sobre clássicos infanto-juvenil é falar sobre esses livros icônicos:

  • O pequeno príncipe (1943)

Livro O pequeno príncipe da Editora HaperCollins. Foto por: Lívia

  • Alice no País das Maravilhas (1865)

Livro Alice no País das Maravilhas (2010) pela Editora Zahar.

  • Contos de Grimm (1812)

Livro Contos de fadas dos irmãos Grimm (2019) pela Editora Principis.

  • Viagem ao centro da Terra (1864)

Livro Viagem ao centro da Terra (2016) pela Editora Zahar.

  • Onde vivem os monstros (1963)

Livro Onde vivem os monstros (2014) pela Editora Cosac & Naify.

  • Diário de um banana (2007)

Livro Diário de um banana (2007) pela Editora Vergara & Riba.

  • Reinações de Narizinho (1931)

Livro Reinações de Narizinho (2019) da Editora Companhia das letrinhas.

  • O menino maluquinho (1980)

Livro O menino maluquinho (2008) pela Editora Melhoramentos.

“Um dia, você terá idade suficiente para ler contos de fadas outra vez.” — C. S. Lewis
 

Escritor por: Victória Freire

Fonte: Blog Medium, Site Nova Escola, Site Maiores e Melhores.

Imagens: Pixels


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